A cordilheira dos Andes na Bolívia está dividida em sete cadeias de montanhas que cruzam o país. A Cordilheira Real é a que está mais próxima de La Paz e a que recebe mais turistas, aventureiros e escaladores de diversos lugares do mundo, principalmente da França, Chile, Argentina e mais recentemente do Brasil também. Ao norte da Cordilheira Real e da cidade de La Paz está localizada a Cordilheira de Apolobamba e ao sul a Cordilheira Quimsa Cruz. Não não podemos deixar de citar a Cordilheira Ocidental, próximo a fronteira com Chile, onde está localizado o vulcão Sajama, a mais alta montanha da Bolívia com 6.549m de altitude.
Escalar montanha nos Andes, seja no Peru ou na Bolívia, é uma intensa viagem cultural, já que os dois países conservaram a dura custas os costumes, trajes e lingua dos povos originários. Nas montanhas, ou mesmo caminhando pelas ruas da cidade é muito fácil perceber como a raça indígena prevaleceu fortemente, existindo pouquíssima miscegenação.
Para se chegar a La Paz é possível voo direto de São Paulo, com escala em Lima, o que torna a passagem bem cara. Uma opção é voar São Paulo-Santa Cruz de La Sierra e de lá pegar outro voô com a empresa boliviana BOA, esta passagem comprada com antecipação custa cerca de $100. Este trecho Santa Cruz – La Paz também é possível percorrer de onibus, daí a passagem custa cerca de $15, só que ao invés de duas horas de voô são 18 horas de viagem.
La Paz é uma grande cidade cercada de lindas montanhas. Da cidade se vê ao Norte o Illimani com 6.480m de altitude, e o Mururata com 5.575m, e um pouco mais ao sul o Huayna Potossi com 6.080m. A geografia da cidade também impressiona muito, logo após a Cordilheira Real se chega a região de La Paz conhecida como El Alto, aí a altitude é de 4.200m, onde está localizado a periferia da cidade que se estende por uma planíce de perder de vista. A cidade de La Paz, o centro, está localizado lá embaixo, a impressão é de estar descendo para dentro de um buraco, aí a altitude cai para cerca de 3.800m. É no centro onde estão localizados as agências e as lojas de montanha, os hostels e restaurantes, tudo ao redor da rua Sagarnaga e Illampu. Descendo ainda mais se chega a zona sul da cidade, a região nobre, muito distinta de todo o resto de La Paz, nos falaram que era os Estados Unidos de La Paz, Burger King realmente tinha por lá. É também na zona sul que está localizado um setor de escalada esportiva conhecido como Aranruez, a rocha é o conglomerado e é uma ótima pedida para os dias de aclimatação.
Para escalar na Cordilheira Real, principalmente nas montanhas mais populares como o Condoriri 5.697m, o Pequeno Alpamayo 5.300m e o Huaya Potossi 6.080m é muito fácil encontrar agências que oferecem pacotes completos, com guias, porteadores, burros para cargas e todo o equipo de escalada. O acampamento base do Condoriri é um ótimo lugar para começar a empreita. De lá é possível escalar várias montanhas, inclusive o Pequeno Alpamayo. Optamos por ir sozinhos, sem os serviços das agências e com equipamento próprio. Com carro particular (pagamos R$70,00 a corrida) se chega bem próximo do acampamento, em um lugar conhecido como La Rinconada, daí se pode arrumar os burros para a carga (R$25,00), e caminhando cerca de uma hora já se chega ao acampamento base. Com certeza este é um dos lugares da Cordilheira Real que mais recebe escaladores durante a temporada. Para estar aí é necessário pagar uma taxa diária de 10 bolivianos, cerca de R$3,00, em contrapartida o acampamento conta com vários banheiros (construiídos com pedras e vegetação dali mesmo), fonte de água limpa e um cuidador que limpa os banheiros diariamente. Apesar da grande visitação o lugar está sempre limpo.
Este ano as condições da neve nestas montanhas estavam excelentes e tivemos o priviélgio de escalar o Pequeno Alpamayo pela via Directa, com uma parede de 150m e inclinação de 50 graus, são cerca de 8 a 10 horas entre subir e descer. O Condoriri, chamado assim porque realmente a montanha se parece com um Condor com as asas abertas, já é um pouco mais técnico e a empreita é maior. Se pode escolher subir La Cabeza del Condor, com um trecho pequeno de cerca de 80 graus de inclinação e uma linda aresta no final para atingir o cume. Ou ainda, escalar a Asa Direita 5.482m, apenas caminhando ou a Asa Esquerda 5.532m enfrentando uma escalada mixta e bem mais exigente. Do mesmo acampamento ainda é possível chegar ao cume do Pico Áustria, do Tarija, da Piramide Blanca e do Ilusão. E ainda comer uma trucha da laguna Chiar Khota, basta ficar atento a movimentação dos pescadores e garantir a janta com peixe fresco, um luxo só para quem está acampado a 4.620m .
Depois da aclimatação no Condoriri a montanha mais acessível, no que diz respeito a logística e técnica, é o Huayna Potossi. De La Paz se chega até o acampamento base de carro, cerca de 40min a 1 hora, onde existe um refúgio de montanha. De lá é possível sair caminhando no mesmo dia e chegar, depois de 2 horas em média, ao acampamento alto, onde também existe um refúgio de montanha. Daí são cerca de 8 a 10 horas de caminhada para chegar e descer do cume. Não existe nenhum trecho muito técnico pela via normal, apenas caminhada em glaciar. Para quem quer escalar um pouco uma boa opção é a via Francesa, com uma linda parede de uns 300m e com inclinação de 50 a 60 graus.
Se a idéia e sair um pouco da rota turística e se aventurar por lugares menos frequentados da Cordilheira Real, as montanhas mais ao norte de La Paz são uma excelente opção. Difícil é encontrar informações e transporte, já que as agências na sua maioria só oferecem serviços para Condoriri e Huayna Potossi. Ao norte está o Chachacomani 6.074m, que junto com o Chearoco 6.127m, o Illampu 6.368 e o Ancohuma 6.427m forma uma maçico de glaciar perpétuo e muito grande. Infelizmente nos faltou tempo para conhecer este pedaço da Cordilheira Real, mas com certeza já está nos planos da próxima temporada.